quarta-feira, 21 de março de 2012

INVASÃO EM SÃO PAULO
por Bruno Mariz


Rua Aspicuelta


O artista francês Invaders veio para São Paulo ano passado a convite do Masp para a exposição "De dentro para fora".
Jamais revelando seu nome verdadeiro, Invaders intervem na paisagem urbana construindo réplicas dos monstros invasores do jogo Space Invaders (origem do codinome do artista) feito para video-games de 8 bits.


Rua 25 de Março

Invaders usa azulejos e cimento para espalhar seus invasores pelas cidades do mundo.
Aqui em Sampa, produziu 50 monstrinhos que estão espalha dos pela cidade (mapa completo no llink: http://maps.google.com.br/maps/ms?ie=UTF8&oe=UTF8&msa=0&msid=214106657362604054425.0004a9b2aac2063ae44f0 ). Nada comparado aos mais de mil invaders que ele espalhou em Paris, sua cidade natal.
A graça da brincadeira é caça-los pela cidade, muitos deles estão em lugares visíveis, mas alguns ficam bem escondidos. 
Rua Dr. Arnaldo
Segue uma entrevista bem interessante que o artista deu ao jornal Folha de São Paulo quando esteve aqui:



Folha - Por que "Space Invaders"? O que esses personagens representam?
Invader - Foi uma espécie de acidente. Eu era um jovem artista e sabia que era arte o que eu queria fazer. Eu testava vários materiais. E eu passei a me interessar por imagens digitais, formadas por pixels. E comecei a fazer painéis de mosaicos que  dialogassem com a estética digital. Um dia eu fiz um Space Invader no meu estúdio e pensei e colocá-lo fora do estúdio. Colei perto do estúdio, num muro. Isso foi em 1996. Dois anos depois, chegando no meu estúdio, caiu a ficha. Eu tinha feito algo interessante: era um "Space Invader", estava lá há dois anos, as cores continuavam boas, ao contrário das pinturas, que se desgastam. Aquilo era uma sentinela e estava invadindo um espaço! Pensei: "Continue com isso! Transforme isso num projeto. Vá invadir espaço!".

Demorou dois anos pra você perceber isso?
Sim! Só depois resolvi invadir Paris. Mas em seguida percebi também que não queria que isso fosse um projeto francês, mas global. Então, já em 1999 eu comecei a invadir Londres, que estava menos de três horas de trem de Paris. Fui para Tóquio participar de uma exposição e invadi Tóquio. Fui para Nova York e invadi Nova York. Vim para São Paulo e invadi São Paulo. Desde 1998, minha vida é essa: viajo pelo mundo para fazer exposições e invado as cidades.

Qual é a sensação de "invadir" uma cidade?
Sabe o filme "Clube da Luta"? Parece que estou num sonho, como no filme. Eu viajo muito e me sinto como um invasor: me programo, compro os materiais, escolho os locais e saio durante as madrugadas para invadir a cidade. Fiquei 20 dias em São Paulo, que é o tempo mínimo necessário para fazer uma invasão, e foi uma imersão total num videogame. É engraçado, mas minha vida é sair de madrugadas e colar peças ilegalmente nos muros. E de repente eu me pego às 5h da manhã, em Katmandu, e os cachorros estão latindo ao meu lado, e há macacos perto de mim e eu penso: "Mas o que diabos eu estou fazendo?". E isso é o que é mais belo de ser um artista. É como realizar um sonho subversivo. Você dá novos sentidos para a vida. Essa é minha missão poética.


Liberdade

Qual é o papel do mistério e da surpresa no seu trabalho?
É extremamente importante. Minha ideia é surpreender as pessoas e apontar uma alternativa aos sinais e placas de trânsito e à publicidade nas ruas. É um jogo com a população. O mais interessante da street art é que você pode tocar toda e qualquer pessoa. Se você colocar uma obra num museu, talvez tenha sorte se 10% da população da cidade a veja. Quando você cria uma obra nas ruas, pode ser visto pelo presidente e pelo morador de rua. E, para ser um bom artista de rua, é preciso surpreender as pessoas.


Como você escolhe onde colocar um "Space Invader"?
O material é pesado para carregar. A matéria-prima é preciosa pra mim, os azulejos. E a quantidade que posso fazer é limitada por isso. É como uma acupuntura urbana. Eu tenho alguns critérios. Visibilidade, quanto mais gente puder vê-lo, melhor. Por outro lado, confidencialidade pode ser também um critério: um "Space Invader" escondido em algum lugar para alguém descobrir. O critério fotogênico é importante, porque todas as peças que eu faço são fotografadas em close e à distância no dia seguinte. E todas elas são diferentes. Ando com um caderninho no bolso onde anoto exatamente onde as coloquei e depois passo todas essas informações mais as fotos para uma grande base de dados que tenho em casa. E cada uma delas é uma obra de arte, mas a obra de arte é toda a rede de "Space Invaders" do mundo em conjunto, como uma escultura sobre o planeta.


Como você vê essa mudança na percepção da arte urbana, de vandalismo à consagração em museus e galerias?
A arte urbana passou de uma cena underground para mainstream. E eu não sou o tipo de cara que gosta de mainstream. Sou muito mais uma banda de punk obscura do que o último disco da Madonna. Ao mesmo tempo, quando algo é interessante e se torna mainstream por conta disso, é algo bom.

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